Hoje foi um dia no mínimo interessando em minha rotina. Uma coisa simples que acabou me tomando a tarde toda.
Apesar de não ser relacionado diretamente a Londres me fez refletir um pouco.
Ontem, conversando com minha mãe a respeito da viagem, decidi tomar a vacina contra febre-amarela. Apesar da Inglaterra não ser um país que exija nenhuma vacina e não há epidemias de febre-amarela não custava ir preparado.
Pois bem, em contato com a Secretaria Municipal de Saúde recebi a informação:
- Basta se dirigir a qualquer Unidade de Saúde de Curitiba para receber a dose da vacina, aplicada uma única vez.
De porte destas informações reservei o inicio da tarde de hoje para tomar a bendita vacina. Fui ao posto de saúde mais próximo de minha casa na com o intuito de ser vacinado. Lá, recebo a informação:
- Esta vacina está em falta no estoque, a previsão pra que ela chegue é 13 de julho.
- Certo, mas viajo no inicio de julho, como posso receber a dose da vacina?
- Você pode ir a outra unidade de saúde e havendo o medicamento, você receberá a vacina.
- Em qual posto que tenha a vacina eu posso ir?
- Não sei lhe dizer, somente indo até lá pra saber.
Ok, vou até outro posto – pensei comigo. Chegando em outra unidade de saúde me deparo com uma pequena fila. Depois de esperar, chega minha vez. Pergunto sobre a vacina e a resposta:
- Esta vacina está em falta aqui.
- Mas qual a perspectiva de ela chegar?
- Não sei lhe dizer, somente as enfermeiras tem essa informação mas elas estão em reunião, e só casos de emergência estão sendo atendidos hoje.
- Tudo bem, muito obrigado pela atenção.
Depois da segunda negativa pensei, agora é que eu não desisto, vou conseguir a bendita da vacina de qualquer maneira.
Resolvi desta vez ir num posto maior, que é como se fosse o central da região onde ou moro. Já na chegada me deparo com uma enorme fila, que ultrapassa as portas do prédio. Nela, crianças chorando, pessoas com febre, tossindo, mães como bebes no colo, uma mulher com aparente deficiência mental extremamente agitada e até uma criança que estava com a perna quebrada.
As pessoas que tentavam ir ate o balcão eram invariavelmente mandadas de volta pra fila. Resolvi nem arriscar.
Com apenas duas atendentes a demora no atendimento era grande. Depois de meia hora aguardando pacientemente, chega a minha vez. Explico que quero receber a vacina, a atendente faz o cadastro e me encaminha para a sala de Vacinas/Injeções. No caminho, mais de 2 dezenas de crianças pequenas com suas mães esperando atendimento pediátrico. No mesmo corredor pessoas passando mal, com febre, inchadas e machucadas esperando pra ser atendidas.
No balcão ninguém esperava. Pensei comigo “Vai ser agora”. Desta vez o atendente me diz que meu nome não esta no computador... Tenho que voltar para aquele primeiro balcão.
Lá, após enfrentar o aglomerado de gente explico pra moça a situação, ela mexe um pouco no computador e diz: “Pronto, agora pode voltar lá, esta tudo certo”
De novo ao local de aplicação da vacina me certifico que meu nome desta vez está no tal do computador do cadastro.
Pensei: “Agora vai”. Fico esperando um pouco ali enquanto o enfermeiro prepara uma carteirinha e uns papeis. Passado algum tempo ele volta em minha direção, (e eu crente de que com a vacina em mãos) sem nada nas mãos e diz.
“Pode aguardar alí que você logo vai ser chamado pelo nome”. Ainda não tinha sido daquela vez que eu será atendido.
Passados mais 10 minutos uma enfermeira simpática e atenciosa me chama. Dentro da sala, prepara a seringa com a vacina enquanto me dá as orientações. Explico pra ela que vou fazer uma viagem ao exterior e ela e aplica a vacina.
Ao final, com um sorriso no rosto, ela diz: “Tudo pronto, a próxima agora só daqui a dez anos. Boa Viagem”.
Agradeci a ela e de pois de 5 horas do inicio da minha busca pela bendita vacina saí daquela sala com duas coisas. Além de imunizado contra a Febre-Amarela, com a certeza de que apesar de todo o problema de saúde publica existente no pais, de toda a burocracia que dificulta o acesso do cidadão, e do grande descaso das autoridades no que diz respeito a saúde enquanto houver pessoas preocupadas com o bem estar do próximo existe um fio de esperança.
Bem vindo ao sistema público de saúde brasileiro